Metas da educação crítica
Uma educação crítica e libertadora deve ter em vista construir uma
civilização solidária, livre de opressão e desigualdade social.
Vivemos todos sob a hegemonia do pensamento único
neoliberal e da economia capitalista centrada na apropriação privada da
riqueza. O neoliberalismo, como vírus que se dissemina quase
imperceptivelmente, se introduz nos métodos pedagógicos e nas teorias
científicas; enfim, em todos os ramos do conhecimento humano. Assim, instaura
progressivamente ideias e atitudes que fundamentam a ética (ou a falta de
ética) das relações entre seres humanos e dos seres humanos com a natureza.
Na lógica neoliberal, a inclusão do indivíduo como
ser social é medida por sua inserção no mercado como produtor e consumidor. As
relações humanas são determinadas pela posse de mercadorias revestidas de
valor. É o fetiche denunciado por Marx.
Essa inversão relacional - segundo a qual a
mercadoria possui mais valor que a pessoa humana, e a pessoa humana é
valorizada na medida em que ostenta mercadorias de valor – contamina todo o
organismo social, inclusive a educação e a religião, conforme denunciou o papa Francisco
a 22 de dezembro de 2014, ao apontar as "15 enfermidades” que corroem a
Cúria Romana.
Disso decorre uma ética perversa, que sublinha como
valores a competitividade, o poder de consumo, os símbolos de riqueza e poder,
a suposta mão invisível do mercado.
Tal perversão ética debilita os organismos de
fortalecimento da sociedade civil, como movimentos sociais, sindicatos,
associações de bairro, ONGs, partidos políticos etc. O padrão a ser adotado já
não é o da alteridade e da solidariedade, mas o do consumismo narcísico e da
competitividade.
Como superar, hoje, esse padrão de vida capitalista
que, se não vigora em nosso status social, muitas vezes predomina em nossa
mentalidade? Nisso a educação exerce papel preponderante para que as novas
gerações não se sintam obrigadas a adaptar-se ao novo "determinismo
histórico”: a hegemonia do mercado.
Hoje, uma das poderosas armas de superação do
neoliberalismo é a educação crítica e cooperativa, capaz de criar novos
parâmetros de conhecimento e suscitar novas práxis emancipatórias. Sobretudo
quando ela se vincula a movimentos sociais de defesa dos direitos humanos e de
aprimoramento da democracia.
É através da educação que se moldam as
subjetividades que imprimem significado aos fenômenos sociais. Acontece, com
frequência, de se viver um antagonismo entre o microssocial (pautado pela
subjetividade) e o macrossocial (pautado pelas estruturas). Professamos uma
ética que não praticamos e uma democracia que não admitimos ao ocupar função de
poder.
Bons exemplos de coerência entre o microssocial e o
macrossocial são Gandhi, Luther King e Chico Mendes: a partir de seus ideais
específicos – luta contra o imperialismo britânico, a discriminação racial e a
degradação ambiental – lograram modificar estruturas e implantar novos
parâmetros éticos nas relações pessoais e sociais.
Frei Betto é escritor, autor de "Reinventar a
vida” (Vozes), entre outros livros.
Frei Betto
Escritor e assessor
de movimentos sociais
http://site.adital.com.br/site/noticia.php?lang=PT&cod=84251
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