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segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Título: Seremos Herdeiros do pampa pobre?


O nosso tradicionalismo que nesta época aflora em todas as “tribos”, é algo que perpassa a razão não tendo como negar esse encanto e nostalgia que é festejar a Semana Farroupilha. E devemos essa alegria a Paixão Côrtes que fez um trabalho de etnografia do próprio Rio Grande, “vinculando o homem à região, unidos num mesmo universo”, pois como ele mesmo canta, “Rio Grande do Sul, dos prados que não tem fim, por maior que tu sejas Rio Grande, caberás sempre dentro de mim”.
O Rio Grande do Sul é representado pelo hino, pela bandeira, pelas tradições, porém, ele é próprio povo e é o povo que poderá, com consciência da realidade, com coragem e atitude, “servir de modelo a toda a Terra”, pois conforme o gênio Albert Einstein já dizia, “além das aptidões e das qualidades herdadas, é a tradição que faz de nós aquilo que somos”, então que sejamos aguerridos e bravos. E o que herdamos?
Herdei um campo onde o patrão é rei
Tendo poderes sobre o pão e as águas
Onde esquecidos vive o peão sem leis
De pés descalços cabresteando mágoas

É preciso que estejamos vigilantes quanto às leis que estão para serem aprovadas aqui no Estado, pois muitos dos Direitos foram conseguidos com muita luta e não podem ser negados ou perdidos. Precisamos ficar de olho no que os nossos representantes estão fazendo, senão:
Passam as mãos da minha geração
Heranças feitas de fortunas rotas
Campos desertos que não geram pão
Onde a ganância anda de rédeas soltas

Enquanto o povo gaúcho está tomado pela euforia farroupilha, os deputados estão aprovando Projetos de Leis que serão prejudiciais a população, pois será um retrocesso às conquistas de vários anos e muitos deles já estão tramitando na câmara. Há dias atrás fizeram votação com plenário vazio – quase todos os jornais mostraram isso – sendo atitude totalmente antidemocrática e um total desrespeito a sociedade, afinal os deputados estão no parlamento para nos representar e não podem ficar de portas fechadas para realizar ações que determinarão o nosso futuro e o de nossos filhos. Precisamos observar quais as intenções dos políticos, principalmente aqueles que fazem discursos enviesados e tangenciados, mascarando a verdade, pois conforme já nos alertava Aristóteles a “turbulência dos demagogos derruba os governos democráticos”.
E a mídia, que deveria mostrar e priorizar assuntos relevantes à população, não cumpre o seu papel social plenamente, como nos alerta Luis Fernando Veríssimo, “às vezes, a única coisa verdadeira num jornal é a data” é preciso que procuremos fontes seguras e confiáveis de informação.

O heroísmo dos velhos tempos na qual somos saudosos e demonstramos isso sempre que podemos nos remete a um sentimento confuso. É difícil cultivar as raízes da nossa cultura – que é linda demais – se o nosso Rio Grande está em situação precária.
Mas que pampa é essa que eu recebo agora
Com a missão de cultivar raízes
Se dessa pampa que me fala a estória
Não me deixaram nem se quer matizes?

Precisamos nos livrar das ilusões e da paralisia política, sair da comodidade e caminhar em verdadeira liberdade não só no dia 20 de Setembro, mas em todos os dias. Precisamos clarear as nossas ideias e refletir para compreender as estruturas sociais que nos envolvem e sustentam. A verdade não pode ser temida, pois já dizia Platão, “podemos facilmente perdoar uma criança que tem medo do escuro; a real tragédia da vida é quando os homens têm medo da luz”.  É necessário ação.
Se for preciso, eu volto a ser caudilho
Por essa pampa que ficou pra trás
Porque eu não quero deixar pro meu filho
A pampa pobre que herdei de meu pai

Portanto, a nossa guerra poderá ser outra e as nossas armas serão o conhecimento e o engajamento e saber quem de fato é o nosso inimigo. Temos que ter motivos reais para nos orgulharmos de ser gaúchos e precisamos nos tornar fortes de novo, pois, “povo que não tem virtude acaba por ser escravo”.
Os trechos da letra da música do Gaúcho da Fronteira, intercalados aqui, nos advertem que não podemos deixar as próximas gerações serem “herdeiros de um pampa pobre”. Então, que sejamos esclarecidos, unidos, corajosos e virtuosos.


 Artigo para o Jornal Primeira Hora
Aurora: Roseli de Mello

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