Título: Seremos Herdeiros do pampa pobre?
O nosso tradicionalismo
que nesta época aflora em todas as “tribos”, é algo que perpassa a razão não
tendo como negar esse encanto e nostalgia que é festejar a Semana Farroupilha.
E devemos essa alegria a Paixão Côrtes que fez um trabalho de etnografia do
próprio Rio Grande, “vinculando o homem à região, unidos num mesmo universo”, pois
como ele mesmo canta, “Rio Grande do Sul, dos prados que não tem fim, por maior
que tu sejas Rio Grande, caberás sempre dentro de mim”.
O Rio Grande do Sul é
representado pelo hino, pela bandeira, pelas tradições, porém, ele é próprio
povo e é o povo que poderá, com consciência da realidade, com coragem e atitude,
“servir de modelo a toda a Terra”, pois conforme o gênio Albert Einstein já
dizia, “além das aptidões e das qualidades
herdadas, é a tradição que faz de nós aquilo que somos”, então que sejamos aguerridos
e bravos. E o que herdamos?
Herdei um campo onde o patrão
é rei
Tendo poderes sobre o pão e
as águas
Onde esquecidos vive o peão
sem leis
De pés descalços
cabresteando mágoas
É preciso que estejamos vigilantes
quanto às leis que estão para serem aprovadas aqui no Estado, pois muitos dos
Direitos foram conseguidos com muita luta e não podem ser negados ou perdidos. Precisamos
ficar de olho no que os nossos representantes estão fazendo, senão:
Passam as mãos da minha
geração
Heranças feitas de fortunas
rotas
Campos desertos que não
geram pão
Onde a ganância anda de
rédeas soltas
Enquanto o povo gaúcho está
tomado pela euforia farroupilha, os deputados estão aprovando Projetos de Leis
que serão prejudiciais a população, pois será um retrocesso às conquistas de vários
anos e muitos deles já estão tramitando na câmara. Há dias atrás fizeram
votação com plenário vazio – quase todos os jornais mostraram isso – sendo atitude
totalmente antidemocrática e um total desrespeito a sociedade, afinal os
deputados estão no parlamento para nos representar e não podem ficar de portas
fechadas para realizar ações que determinarão o nosso futuro e o de nossos
filhos. Precisamos observar quais as intenções dos políticos, principalmente
aqueles que fazem discursos enviesados e tangenciados, mascarando a verdade, pois
conforme já nos alertava Aristóteles a “turbulência dos demagogos derruba os governos
democráticos”.
E a mídia, que deveria
mostrar e priorizar assuntos relevantes à população, não cumpre o seu papel
social plenamente, como nos alerta Luis Fernando Veríssimo, “às vezes, a única coisa verdadeira num
jornal é a data” é preciso que procuremos fontes seguras e confiáveis de
informação.
O heroísmo dos velhos tempos na qual somos saudosos e demonstramos isso sempre que podemos nos remete a um sentimento confuso. É difícil cultivar as raízes da nossa cultura – que é linda demais – se o nosso Rio Grande está em situação precária.
Mas que pampa é essa
que eu recebo agora
Com a missão de
cultivar raízes
Se dessa pampa que me
fala a estória
Não me deixaram nem
se quer matizes?
Precisamos nos livrar das ilusões
e da paralisia política, sair da comodidade e caminhar em verdadeira liberdade não
só no dia 20 de Setembro, mas em todos os dias. Precisamos clarear as nossas
ideias e refletir para compreender as estruturas sociais que nos envolvem e
sustentam. A verdade não pode ser temida, pois já dizia Platão, “podemos facilmente perdoar uma criança que tem medo do
escuro; a real tragédia da vida é quando os homens têm medo da luz”. É necessário ação.
Se for preciso, eu volto a
ser caudilho
Por essa pampa que ficou pra
trás
Porque eu não quero deixar
pro meu filho
A pampa pobre que herdei de
meu pai
Portanto, a nossa guerra
poderá ser outra e as nossas armas serão o conhecimento e o engajamento e saber
quem de fato é o nosso inimigo. Temos que ter motivos reais para nos orgulharmos
de ser gaúchos e precisamos nos tornar fortes de novo, pois, “povo que não tem virtude
acaba por ser escravo”.
Os trechos da letra da
música do Gaúcho da Fronteira, intercalados aqui, nos advertem que não podemos
deixar as próximas gerações serem “herdeiros de um pampa pobre”. Então, que
sejamos esclarecidos, unidos, corajosos e virtuosos.
Artigo para o Jornal Primeira Hora
Aurora: Roseli de Mello
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